26.11.15

Amor

"Três horas da manhã. Das minhas janelas vê-se uma tranquila noite de Abril, em que as estrelas tremeluzem ternamente. Não durmo. Sinto-me bem.
Por todo o meu ser, da cabeça aos pés, há um sentimento bizarro e incompreensível. Não sei analisá-lo assim de repente, não tenho tempo nem pachorra para isso, e além disso, essa análise não interessa nada. Ora vamos! Irá o homem que se atira de cabeça do campanário de uma igreja ou o que sabe que ganhou 200 mil rublos procurar um sentido para as suas impressões? Tanto se lhe dá!"
Era mais ou menos assim que começava uma carta de amor a Alexandra, uma rapariga de 18 anos por quem me tinha apaixonado. Cinco vezes a tinha recomeçado e outras tantas rasgara o papel, riscara folhas inteiras e copiara de novo. Essa carta tinha-me ocupado um longo momento, como um romance encomendado. (...)

Amor, Anton Tchekhov